Poesia

Alienação

Se há mistérios, quem os sabe a resposta tenha,

Senão a criatura derramada sobre sua própria sina

Ingênuo, de quem nem mesmo um silvo grave,

Seja relato  da vida que se ergue em suspiros findos.

 

Que sob a gota do sol ardente do deserto que de si fez,

Cerceado de homens e pedras, de lajes e vermes,

De vez em vez, de em vez em quando, de pedras e gárgulas.

 

Se os hão de ser mistérios para que

Se o infeliz escancara até mesmo sua íngride ignorância

No livro da calma e transvestida insolência

Dos que herdaram  do tempo o poder de poder

De poder ferir e matar, com a mesma e repetida crueldade, e sempre.

 

Os loucos até se lançam em voos irônicos e grotescos

Como pássaros desnorteados dançando entre labaredas e flores

Em busca de deuses nos infernos de Dante, nos infernos da vida.

Pra alimentar o filho pródigo ao qual lhe chama de ego.

 

O mistério presente, portanto é finito,

Quando o homem em seu próprio destino

Mergulha no fundo do leito do poço profundo,

De onde a olhar, lhe  voam noturnos

Os vultos imundos, e desterros do tempo.

 

Enquanto o covarde, em vão contentamento,

Sorrir-se de tanta imbecilidade, sentir-se,

Nem um pouco, mas inutilmente servos

Desses deuses nus, e on-impotentes.

 

Enquanto isso o sol derradeiro queima rastejante

Varrendo a tarde com seu manto vespertino,

Para doar-se a noite, para que  hipocrisia teça de  novo, o novo dia,

Por onde tocará com sua marca férrea, a cega humanidade.

 

 

 

 

 

Se não houvesse amanhã

 

Eu não queria que houvesse amanhã

Porque é nele que habitam meus sonhos

E nele que tudo tarda

E é por ele que o “nunca” existe.

 

É lá que vejo a tardança do teu laço,

E lá se perde o infinito alcance do teu amor

Por isso, melhor seria, se todos os dias fossem hoje.

 

E por mais que houvesse ontem

Que a distância  entre o velho  e a infância

Fosse apenas o gosto  morno de uma noite

Assim, aquele dia e o teu sorriso

Seria sempre uma lembrança recente

 

E hoje, para todo sempre, hoje.

Eu vivesse nos girassóis doces do teu beijo.

 

Se assim fosse, amanhã não haveria

Nem medo, nem perda, nem desesperança

Por que nele, tudo o que se busca é resposta.

Por que nele, tudo o que se procura é o amor.

 

No hoje do teu laço e nos ares do teu beijo

Contudo, se o que é verdadeiro amor é eterno

Jamais haveria tempo, nem ontem, hoje ou futuro

Mas um largo momento único e mágico

Estendido como um deserto no meio das nossas vidas

Onde a razão de tudo seria eu e você.

 

 

Jeito de Amar

 

No templo  ilhado do amor

Olha o pásmico horizonte o servo

A desejar que ao quebrar-se o dia

Os abraços, Luzia, findem a solidão

E a ausência mórbida se vista

Do ardor adocicado dos prazeres

Que adoçam o coração.

 

 

Assim os dias se passam

No escuro casulo do querer,

E a torre do deserto branco

Banhado de pedras e gritos

Tornam mais pálido o langor

Nas veredas escaldantes

Pro templo ilhado do amor.

 

Para ele, ingênuo e franco

Amar é maior que viver

Amar é maior que sonhar

Amar é maior que o amor

Dos que sabem simplesmente amar.

 

O ENÍGMA DE AMAR

 

Não há lugar mais claro que sob a luz da sabedoria

Não há lugar mais quente que no verdadeiro abraço

Não há lugar  mais sério que no sorriso espontâneo

Não há lugar mais escuro que na angústia

Não há lugar mais solitário que na saudade.

 

Não há gesto mais complexo que a atenção,

Não há palavra mais agradável que a do coração,

Não há verdade mais dita que a do tempo,

Não há mensagem mais forte que a da emoção,

Não há amor maior do que o da pura inocência.

 

Não há nenhuma forma de olhar que se veja totalmente,

Não há palavras tantas que fale tudo inteiramente,

Não há nenhuma arte que reflita tudo o que se sente,

Não há nenhuma caminhada que se ande o mundo inteiramente,

Não há nenhuma coragem sem algum medo presente,

Não há nenhum delírio que não tenha um lado coerente,

Não há algum  amor eterno que  se viva eternamente.

 

Em tudo há um jeito de ser.

Em cada olhar há um jeito de ver.

Em todo desejo há uma forma de querer.

Cada um é um individuo, por mais que não pareça ser.

 

Então de nada precisa entender,

Desse enigma de viver, dessa amálgama de se amar.

Apenas viver e amar se não se há de ser,

Pois,a planta do amor depende

Do solo em que você plantar e do fruto que espera colher.

 

Porque não há mistério algum em que a verdade possa se esconder.