15/10/2012 10:33

Crônica desnecessária

 

 

No comum, quando se perde a memória, quando  esquecemos alguma coisa, dizemos que “deu branco”, mas na política é diferente: não deu branco porque o povo esqueceu. Posso dizer que é uma espécie de amnésia inversa, parente da ingenuidade e da imbecilidade.

Parei e quis perguntar àquele homem que risca a calçada na porta da delegacia, mas fiquei a olhar  que ele escrevia uma carta ao nada, e não interessava a linguagem, pois ninguém parava para ler, meu Deus! Seria eu o demente? A mente se esvazia quando a razão me abandona... aquele homem escreve e sorri,  sorri e escreve. Que coisa engraçada ele diz, se olho a calçada e vejo que ali não diz nada.

Lembrar e esquecer, esquecer e lembrar. A ordem dos tratores não vai alterar a transamazônica, mas pode sim nos deixar na poeira e no buraco. Por isso paro pra pensar que é um problema escolher, e o drama de escolher não poderia nunca ser trocado pela farra das bandeirolas e pela alegria irritante das musicas plagiadas para imitar a  vida, como se a escolha fosse apenas mais uma festa onde se vai e se dança uma noite. Na verdade, por causa desse engano, a festa da eleição é um salão onde se pode dançar quatro anos, e no dia seguinte ainda temos que encarar as dores de cabeça de uma vida que dormiu bêbada por ter bebido um coquetel de todos os males repetidos sem pensar.

Mas o que mesmo escrevia aquele homem sem mente clara como seus cabelos brancos tingidos de céu. Seria uma mensagem aos que pensam ou aos que dispensam pensar. Uma coisa é certa, por trás daquela mensagem há uma ideia que ele quer nos passar: a vida não é para ser feita somente de papelão, mesmo que se deles se faça a morada e a proteção do sol ardente.

Falta ao povo pensar, pois os débeis já não pensam. Mas quem disse que por serem débeis não pensam? O Felipe, que após comer o pão, vai dormir no hospital, pois se adoecer já é o primeiro da fila, assim quem sabe é atendido a tempo e hora. O branquinho dos papelões, do qual não me veio o nome,  para resolver o problema da falta de moradia, o negócio é procurar a justiça, então nada melhor do que morar na porta da delegacia. Ele não é nem doido para escolher morar lá dentro. Desta forma, quem é mesmo que não pensa? Pois quem eu pensava que não pensa, pensa! E quem eu esperava que pensassem, me parece que não pensam. Esquecem até mesmo a  saúde e a segurança. Meu Deus, que mundo louco este meu.

Quando então lembrar ou esquecer não é problema quando se tem que escolher um governante, pois há muito tempo o córtex mora no lado esquerdo do peito, e pensar dispensa pensar, melhor se deixar levar por sons  e sair na chuva gostosamente cantando “vai lacraia, vai lacraia”  ou mais modernamente “ai se eu te pego”, pois é sempre  mais fácil  ir na onda do que carregar o peso de refletir, por mais que o perigo more na futilidade deste feito.

Mas de quem é mesmo o problema? Ora de ninguém, pois se não se pensa ele não existe, e se existe é só beber e dançar. Se o problema se foi não sei, mas uma coisa confesso: dancei, dançamos, dançaremos.

Não entendeu?  Perdoe-me, pensei por um instante. Brasilidamente. Acordadamente. Dolorosamente.

—————

Voltar